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Discípulo de Jesus, casado com Clélia, pai da Victória e feliz por tudo isso.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CRÔNICA DE UMA DESILUSÃO

Hoje quero me permitir não usar textos bíblicos ou figuras ilustrativas.

Faço isso por que para aquilo que vou dizer talvez não haja imagens apropriadas ou ainda pode ser que não encontre respaldo nas sagradas letras. E honestamente, fico feliz por não havê-las. Se é que você me entende.

Escrevo essas linhas em um dia de desilusão. Daí o título. Mas gostaria de não as estar escrevendo.

Antes de derramar aqui a minha chatice, quero alertá-lo, caro leitor! Talvez você possa não gostar ou não concordar com aquilo que digo. Pois tudo o que aqui disser estará brotando de um coração totalmente divorciado da capacidade de contemporização.

Nunca fui de fazer tipo ou média, com quem quer que seja. Não seria na minha própria página, onde posso escrever tudo o que me der na telha, que faria isso. O que sou, sou! Goste quem gostar, doa em quem doer!
Só não me peçam para ficar calado. Isso eu não faço mesmo!

Como alguns de vocês sabem, em janeiro p.p. fui ordenado pastor de uma pequena congregação de crentes aqui em minha cidade onde permaneci até hoje, 03/09/2008.

Essa foi minha primeira oportunidade como pastor e confesso a vocês que sofri muito com a falta de experiência.

Abri mão de muitas coisas para poder me dedicar exclusivamente à obra de Deus, acreditando que essa era a vontade do Eterno para minha vida. Deixei o meu emprego, dispensei uma bolsa integral em uma boa universidade, interrompi a faculdade de teologia, um sonho antigo, para ter mais tempo disponível para a igreja e me sujeitei a viver com apenas sessenta porcento daquilo que ganhava no emprego anterior, sem nenhum benefício. Tudo isso em obediência à minha liderança. Não me queixo, faria tudo novamente, sem arrependimentos. Só estou dizendo isso para poder contextualizar minha fala.

Assumi a congregação em tempo integral em 01/04/2008. Isso nos dá cinco meses.

No início foi muito difícil, pois aliada à minha inexperiência, vieram também a desconfiança e o natural "vamos-esperar-para-ver-oque-acontece-então-decidiremos-se-trabalhamos" da parte de alguns, além do total abandono de outros. Para piorar a situação, me senti totalmente descoberto de assistência pastoral. Acho que alguns pastores dão graças a Deus quando levam alguém ao ministério. Tenho para mim que eles pensam: menos um para me encher o saco, um a menos para eu "pastorear".

É claro que também não fui um "luxo" de pastor. Poderia ter feito muito mais, poderia ter orado mais, ter jejuado mais, ter ensinado melhor, pregado melhor, liderado melhor. Não me eximo de culpa. Mas não me coloco uma carga além daquela que entendo ser a minha. Pois, se não fui um luxo, lixo também não!

E seria hipócrita se dizesse que não sabia dos riscos que corria. Claro que sabia. Sabia que a congregação poderia não me receber bem. Sabia que poderia dar com os burros n'água. Sabia que poderia ser trocado por outro pastor a qualquer momento. Não sou neófito e sei como funciona a direção das instituições religiosas.

Mas honestamente, não pensava que isso aconteceria. Não agora. Não tão já.

Ledo engano!

De uma hora para outra, sem um motivo plausível, eclesiasticamente falando (pois não adulterei, não matei, não me prostitui, não roubei aos cofres da igreja, não dei em cima de nenhuma irmã, não me portei de modo a dar escândalo a ninguém, não ensinei heresias – se bem que o simples dizer que as pessoas precisam viver apenas pela fé, que é fruto da graça, que por sua vez é favor imerecido, e se é imerecido é por que eu não mereço, e se eu não mereço não adianta fazer nada além do que já está feito para receber algo de Deus, na atual conjuntura, já se constitui heresia, e isso eu disse mais de duas vezes), decidiram me tirar da direção da igreja, sem me darem qualquer possibilidade de desenvolver um projeto, na pior das hipóteses, de curto prazo.

Tudo bem. Não vou ficar aqui me lastimando. A vida continua e eu tenho ainda uma grande jornada nesse caminho estreito e apertado. Não foi a primeira vez que me decepcionei com a "igreja" e nem será a última. Outros problemas acontecerão, muitos dos quais serão causados por mim mesmo, e eu vou passar por cima deles e vou continuar acreditando nas pessoas, sem ver um inimigo em cada uma delas.

Mas, o que me chocou foi a constatação de um fenômeno que assola a igreja brasileira.

A disparidade entre a igreja-empresa e a igreja-reino.

Sim, pois conhecendo os relatos bíblicos e históricos da igreja não dá para usar outras nomenclaturas que não essas.

A igreja-reino é aquela onde as pessoas existem apenas para servir a Deus através do serviço ao próximo. O Deus dessa igreja é o Eterno.
A igreja-empresa é aquela que existe somente para encher o bucho de alguns barrigudos. Seu deus é o ventre. Seu poste-ídolo é Mamom.

A igreja-reino diz que não tem prata nem ouro, mas faz os paralíticos andarem.
A igreja-empresa diz que é rica, que está enriquecida e que de nada tem falta; mas não sabe que é desgraçada, e miserável, e pobre, e cega , e nua.

Na igreja-reino as pessoas são respeitadas.
Na igreja-empresa as pessoas são usadas.

Na igreja-reino o que vale são as pessoas.
Na igreja-empresa o valor é o monetário.

Na igreja-reino se valoriza a palavra.
Na igreja-empresa se vive de experiências.

Na igreja-reino as pessoas oferecem suas cabeças umas às outras.
Na igreja-empresa elas querem as cabeças umas das outras.

Na igreja-reino as amizades são defendidas com unhas e dentes.
Na igreja-empresa as unhas e os dentes são usados para defender os cargos eclesiásticos.

Na igreja-reino o que importa é a integridade moral, ainda que Ananias e Safiras precisem morrer.
Na igreja-empresa se a oferta for substancial não há problemas em se negociar valores.

Na igreja-reino a família é prioridade.
Na igreja-empresa você tem que estar em todas as reuniões e sua família que se...ajeite!

Na igreja-reino vale-se o que se é.
Na igreja-empresa vale-se o que se tem e o que se faz.

Na igreja-reino o ajuntamento é efeito.
Na igreja-empresa ele é causa.

Na igreja-reino a voz que se ouve é a do Espírito.
Na igreja-empresa a obediência tem que ser cega aos "pastores".

Na igreja-reino a repreensão é franca e as feridas são feitas por lealdade.
Na igreja-empresa te dão tapinhas nas costas pela manhã, oram com você à tarde e se reúnem para te f.... à noite.

Existem mais mil razões pelas quais eu poderia ficar um dia todo aqui escrevendo sobre essa disparidade, só que minha alma está tão azeda que acho melhor parar por aqui.

Desde hoje não sou mais pastor. Nunca pedi para sê-lo. Apenas aceitei o desafio. E não me arrependo. Faria tudo de novo. Farei tudo de novo se preciso for.

Quem intentará acusação contra mim? Saiba que é Deus que me justifica. (Falo como um doido.)

Quem me condenará? Saiba que por mim Cristo morreu, ressuscitou e está a direita de Deus intercedendo por mim. ( Falo como um maluco.)

Não que eu seja melhor que qualquer outro. Mas também não sou pior. Apenas me aproprio daquilo que Deus diz a meu respeito e não pauto minha vida com base naquilo que os homens dizem.

Chega de escrever.

Nem pense nisso.

No Amor Dele, que sempre nos entende e não se relaciona conosco como se fôssemos seus funcionários e sim como amigos.




Deus te abençoe!

Te amo Jesus.

Adriano Roberto
03/09/2008
http://www.adrianoroberto.blogspot.com/