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Bragança Paulista, São Paulo, Brazil
Discípulo de Jesus, casado com Clélia, pai da Victória e feliz por tudo isso.

sábado, 5 de maio de 2012

OUTRAS REMINISCÊNCIAS





Relato de um gadareno qualquer.



Eu me assentara à beira-mar.

Podia ouvir as rajadas de vento como um atormentador fundo musical.

Uma grande tempestade estava acontecendo não muito longe do lugar em que eu estava.

Até esse momento eu estava lúcido. Era difícil permanecer nesse estado por muito tempo. Não me recordo exatamente, mas tenho por mim que essas ocasiões foram raríssimas e, os períodos de lucidez, cada vez mais curtos.

Durante a tempestade eu podia ver a silueta de uma pequena embarcação sendo agitada pelo vento forte que açoitava o lago naquela manhã.

“Pobres homens.” – pensei comigo mesmo – “Nunca conseguirão chegar a salvo na margem do lago.” – conclui.

Surpreendentemente, algo aconteceu de repente. E aquela imagem começou a mexer comigo.

Um homem se colocou em pé na proa do barco e instantaneamente todo aquele cenário de caos foi substituído por uma calmaria jamais imaginada pelo maior de todos os otimistas naquele momento.

Aquilo me intrigou. Que homem seria aquele? Que gesto era aquele que ele fez com as mãos levantadas aos céus? Como as ondas do mar se acalmaram e o vento cessou depois disso?

Não tive tempo para sequer pensar em respostas plausíveis para aquelas questões, pois imediatamente após esse fato os espíritos imundos que habitavam o meu corpo se rebelaram dentro de mim, me levando a mais um quadro de possessão demoníaca.

Não era a primeira vez. Mas foi a última.

Eu sofria havia muitos anos com aqueles demônios habitando meu corpo. Eles me obrigavam a andar nu pelas ruas.

As mães já não deixavam suas filhas brincarem livremente nas calçadas com medo que eu as violentasse. Não as culpo. O quê se esperar de um homem que anda pela rua mostrando sua genitália?

Quando meu drama começou, minha família me abandonou à própria sorte. Também não os culpo. Eu me tornara um homem violento e sanguinário. Já não poderia conviver pacificamente com minha esposa e filhos. Eles não mereciam isso.

Fiz da rua minha morada, das estrelas minha companhia e do mundo meu chão! Vagava solitário pelas colinas e por lugares inóspitos!

O meu estado se tornara tão lastimável que várias vezes foi preciso que me acorrentassem para que eu não ferisse a mim próprio e aqueles que cruzassem meu caminho. Fora preciso contratar força policial para me vigiar.

No último estágio da possessão, comecei a arrebentar os grilhões que me prendiam e a me ferir com pedras. Fui de mala e cuia para o cemitério e lá me instalei definitivamente.

É impressionante o que o diabo pode fazer com a vida das pessoas, não é mesmo?

Eu que sempre fora um pacato cidadão, que sempre fora amável com as pessoas, que sempre fora tão gentil até com os animaizinhos de rua, agora, por ação do inimigo de minha alma, trato as pessoas como inimigas e sou tratado como a escória da terra, o lixo entre os homens.

Mas tudo haveria de mudar.

Eu não me recordo, mas havia muita gente lá para confirmar o fato.

Ao ancorarem aquela pequena embarcação à beira do lago, eis que Ele desceu em terra.
Fui compelido pelo demônio a ir ao encontro dEle.

Eu não planejara aquilo. Nem poderia, uma vez que meus sentidos estavam todos entregues a ação diabólica.

Quem presenciou me disse que os espíritos imundos não ousaram se aproximar dEle, ao longe prostraram meu corpo ao chão e clamaram em alta voz: “Jesus, Filho do Deus Altíssimo, o que você quer de mim? E porque você quer me atormentar? Por favor, não faça isso!”.

Contaram-me que Ele perguntou o nome do espírito. “Legião” - respondeu o demônio.

Aqueles que me atormentaram por vários anos, agora estão prostrados diante do Filho de Deus, implorando que sejam tratados com misericórdia, que não sejam enviados de uma vez por todas ao abismo.

Sua hora chegara. Chegara o dia do acerto de contas. Agora pagarão por todo o mal que realizaram a mim, a minha família e a toda a comunidade.

Os discípulos de Jesus não entendiam o motivo dele não me exorcizar logo de cara e de ainda atender ao pedido da legião.

Eu também não tenho entendido muita coisa, mas aquilo que entendi até aqui, é suficiente para que eu mantenha um relacionamento saudável com Deus.

Os demônios saíram do meu corpo e entraram nos porcos. Os criadores ficaram assustados com a morte de seus animais e foram ao encontro de outros na cidade. Uma grande multidão afluiu para lá, para ver o que tinha acontecido.

Seu medo só aumentou quando chegaram e me viram aos pés de Jesus, assentado, vestido e em meu perfeito estado de saúde mental.

Aquilo os perturbou! Como isso se dera? Que poder era aquele, capaz de transformar uma vida assim num piscar de olhos?

Como seus corações não estavam prontos para reconhecer uma verdade ainda que gritante, ainda que evidente, ainda que lhes saltassem aos olhos, aqueles homens exigiram que Jesus saísse de suas cercanias.

Como puderam testemunhar um milagre tão grande e recusar o Deus que realiza milagres? 

Eu não conseguia compreender! Mas hoje vejo que esse mal está arraigado no coração humano.

São muitos aqueles que experimentam um milagre e não estão minimamente interessados em ter um encontro com o Deus que realiza milagres. Querem as bênçãos, não o Abençoador. Lamentável!

Como fora rejeitado, Jesus decidiu partir e foi em direção ao barco.

Eu não podia deixá-lo ir.

Ele fizera tanto por mim, queria retribuí-lo de alguma forma.

Talvez eu pudesse ingressar em sua caravana. Talvez eu pudesse servir com meu testemunho.

Se tantos já o seguem, imagine quando ouvirem aquilo que tenho para contar?

Já antevejo conversões massivas, cruzadas evangelísticas em todas as regiões da Palestina, grandes cultos de avivamento em praça pública. Servirei de grande influenciador! Ajudarei sobremaneira o evangelho com meu testemunho!

Eu corri atrás de Jesus. Lancei-me aos seus pés suplicando que Ele permitisse que eu o acompanhasse. Queria servi-lo como pagamento pela minha cura.

Foi então que meu mundo caiu. Ele não me quis ao seu lado. Como não? Eu sou de grande utilidade para a causa da pregação! Como Ele, que não negou um pedido dos demônios, se recusa a me atender?

Hoje eu sei que Ele fez o melhor por mim.

Minha família ficara privada da minha presença por muitos anos. Agora meus filhos teriam a chance de ter um pai de verdade. Minha esposa finalmente desfrutaria de uma relação a dois com um homem de verdade. A sociedade teria o privilégio de ter um cidadão consciente de seu papel, um cidadão de verdade.

E o melhor de tudo: poderiam ouvir de mim, sobre tudo o que Deus me fizera.

Hoje, eu rasgo o mundo contando a todos o bem que me fez o Eterno.

E a Jesus, só tenho uma palavra: Obrigado!

(Adaptado dos evangelhos de Jesus escritos por Marcos (5:1 a 20) e Lucas (8:26 a 39))

Nele, que não nos deixa cair em tentação e sempre nos livra do mal!

Adriano Roberto

Bragança Paulista, 05.05.2012