Relato de
um gadareno qualquer.
Eu me
assentara à beira-mar.
Podia
ouvir as rajadas de vento como um atormentador fundo musical.
Uma grande
tempestade estava acontecendo não muito longe do lugar em que eu estava.
Até esse
momento eu estava lúcido. Era difícil permanecer nesse estado por muito tempo.
Não me recordo exatamente, mas tenho por mim que essas ocasiões foram
raríssimas e, os períodos de lucidez, cada vez mais curtos.
Durante a tempestade
eu podia ver a silueta de uma pequena embarcação sendo agitada pelo vento forte
que açoitava o lago naquela manhã.
“Pobres
homens.” – pensei comigo mesmo – “Nunca conseguirão chegar a salvo na margem do
lago.” – conclui.
Surpreendentemente,
algo aconteceu de repente. E aquela imagem começou a mexer comigo.
Um homem
se colocou em pé na proa do barco e instantaneamente todo aquele cenário de
caos foi substituído por uma calmaria jamais imaginada pelo maior de todos os
otimistas naquele momento.
Aquilo me
intrigou. Que homem seria aquele? Que gesto era aquele que ele fez com as mãos
levantadas aos céus? Como as ondas do mar se acalmaram e o vento cessou depois
disso?
Não tive
tempo para sequer pensar em respostas plausíveis para aquelas questões, pois
imediatamente após esse fato os espíritos imundos que habitavam o meu corpo se
rebelaram dentro de mim, me levando a mais um quadro de possessão demoníaca.
Não era a
primeira vez. Mas foi a última.
Eu sofria
havia muitos anos com aqueles demônios habitando meu corpo. Eles me obrigavam a
andar nu pelas ruas.
As mães já
não deixavam suas filhas brincarem livremente nas calçadas com medo que eu as
violentasse. Não as culpo. O quê se esperar de um homem que anda pela rua
mostrando sua genitália?
Quando meu
drama começou, minha família me abandonou à própria sorte. Também não os culpo.
Eu me tornara um homem violento e sanguinário. Já não poderia conviver
pacificamente com minha esposa e filhos. Eles não mereciam isso.
Fiz da rua
minha morada, das estrelas minha companhia e do mundo meu chão! Vagava
solitário pelas colinas e por lugares inóspitos!
O meu
estado se tornara tão lastimável que várias vezes foi preciso que me
acorrentassem para que eu não ferisse a mim próprio e aqueles que cruzassem meu
caminho. Fora preciso contratar força policial para me vigiar.
No último
estágio da possessão, comecei a arrebentar os grilhões que me prendiam e a me
ferir com pedras. Fui de mala e cuia para o cemitério e lá me instalei
definitivamente.
É
impressionante o que o diabo pode fazer com a vida das pessoas, não é mesmo?
Eu que
sempre fora um pacato cidadão, que sempre fora amável com as pessoas, que
sempre fora tão gentil até com os animaizinhos de rua, agora, por ação do
inimigo de minha alma, trato as pessoas como inimigas e sou tratado como a
escória da terra, o lixo entre os homens.
Mas tudo
haveria de mudar.
Eu não me
recordo, mas havia muita gente lá para confirmar o fato.
Ao
ancorarem aquela pequena embarcação à beira do lago, eis que Ele desceu em
terra.
Fui
compelido pelo demônio a ir ao encontro dEle.
Eu não planejara aquilo. Nem poderia,
uma vez que meus sentidos estavam todos entregues a ação diabólica.
Quem presenciou me disse que os
espíritos imundos não ousaram se aproximar dEle, ao longe prostraram meu corpo
ao chão e clamaram em alta voz: “Jesus, Filho do Deus Altíssimo, o que você
quer de mim? E porque você quer me atormentar? Por favor, não faça isso!”.
Contaram-me que Ele perguntou o nome do
espírito. “Legião” - respondeu o demônio.
Aqueles que me atormentaram por vários
anos, agora estão prostrados diante do Filho de Deus, implorando que sejam
tratados com misericórdia, que não sejam enviados de uma vez por todas ao
abismo.
Sua hora chegara. Chegara o dia do
acerto de contas. Agora pagarão por todo o mal que realizaram a mim, a minha
família e a toda a comunidade.
Os discípulos de Jesus não entendiam o
motivo dele não me exorcizar logo de cara e de ainda atender ao pedido da
legião.
Eu também não tenho entendido muita
coisa, mas aquilo que entendi até aqui, é suficiente para que eu mantenha um
relacionamento saudável com Deus.
Os demônios saíram do meu corpo e
entraram nos porcos. Os criadores ficaram assustados com a morte de seus
animais e foram ao encontro de outros na cidade. Uma grande multidão afluiu para
lá, para ver o que tinha acontecido.
Seu medo só aumentou quando chegaram e
me viram aos pés de Jesus, assentado, vestido e em meu perfeito estado de saúde
mental.
Aquilo os perturbou! Como isso se dera?
Que poder era aquele, capaz de transformar uma vida assim num piscar de
olhos?
Como seus corações não estavam prontos
para reconhecer uma verdade ainda que gritante, ainda que evidente, ainda que
lhes saltassem aos olhos, aqueles homens exigiram que Jesus saísse de suas
cercanias.
Como puderam testemunhar um milagre tão
grande e recusar o Deus que realiza milagres?
Eu não conseguia compreender! Mas
hoje vejo que esse mal está arraigado no coração humano.
São muitos aqueles que
experimentam um milagre e não estão minimamente interessados em ter um encontro
com o Deus que realiza milagres. Querem as bênçãos, não o Abençoador. Lamentável!
Como fora rejeitado, Jesus decidiu
partir e foi em direção ao barco.
Eu não podia deixá-lo ir.
Ele fizera tanto por mim, queria
retribuí-lo de alguma forma.
Talvez eu pudesse ingressar em sua
caravana. Talvez eu pudesse servir com meu testemunho.
Se tantos já o seguem, imagine quando
ouvirem aquilo que tenho para contar?
Já antevejo conversões massivas,
cruzadas evangelísticas em todas as regiões da Palestina, grandes cultos de
avivamento em praça pública. Servirei de grande influenciador! Ajudarei sobremaneira
o evangelho com meu testemunho!
Eu corri atrás de Jesus. Lancei-me aos
seus pés suplicando que Ele permitisse que eu o acompanhasse. Queria servi-lo
como pagamento pela minha cura.
Foi então que meu mundo caiu. Ele não
me quis ao seu lado. Como não? Eu sou de grande utilidade para a causa da
pregação! Como Ele, que não negou um pedido dos demônios, se recusa a me atender?
Hoje eu sei que Ele fez o melhor por
mim.
Minha família ficara privada da minha
presença por muitos anos. Agora meus filhos teriam a chance de ter um pai de verdade.
Minha esposa finalmente desfrutaria de uma relação a dois com um homem de verdade.
A sociedade teria o privilégio de ter um cidadão consciente de seu papel, um
cidadão de verdade.
E o melhor de tudo: poderiam ouvir de
mim, sobre tudo o que Deus me fizera.
Hoje, eu rasgo o mundo contando a todos
o bem que me fez o Eterno.
E a Jesus, só tenho uma palavra:
Obrigado!
(Adaptado dos evangelhos de Jesus escritos
por Marcos (5:1 a 20) e Lucas (8:26 a 39))
Nele, que não nos deixa cair em tentação e sempre nos livra do
mal!
Adriano Roberto
Bragança Paulista, 05.05.2012
2 comentários:
Nossa Adriao que visão interessante!! Deus continue te abençoando amado! Voce não imagina como eu fiquei lendo!! A verdade não pode ser negada!!! Abraços
A paz do Senhor,irmãos! Que linda paráfrase dos Evangelhos, fiquei muito feliz em constatar que Deus tem levantado seus filhos para serem usados com um dom tão bonito como é o da escrita,você interpretou essa passagem magnificamente. Deus seja louvado por isso!
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